CARLOS SILVA – CS

(10 anos de saudade)

P. Artur Oliveira, Diretor do Coral Cantabo-CS (*)

Cantarei ao Senhor enquanto viver. Grato lhe seja o meu canto. (Cantabo).

Não há dúvida! Carlos Silva viveu a cantar.

Recordarão alguns, mais seus contemporâneos, a alegria dalgumas récitas da Academia do Seminário, quando inesperadamente aparecia: Batem leve, levemente…, Os passarinhos, A Moleirinha… toc… toc…, O Sonho do João e… quantas mais?

“Filho de peixe sabe nadar”. Era filho do Regente da Banda de Minde. O que então bebeu infiltrou-se no seu ADN.

Mas não foi para aí, para a corrente popular, que se virou. Isso era esporádico. Ele próprio afirmou na Introdução do “Orar Cantando” que veio a lume, com sua revisão, em 2001, e reeditado em obra (pretensamente) completa em 2014: “Oxalá consiga o meu intento”. Qual?

  1. Quem canta duplica a prece. E não há dúvida! Vida dedicada integralmente ao canto – “quer o faça por iniciativa própria quer por encomenda” – legou um património inestimável à Liturgia, a nível nacional e internacional.

Regressado de Roma em 1955, por imposição (que o Curso ainda tinha mais umas especializações a completar), a Schola Cantorum do Seminário iniciou nova etapa.  Não esquecemos a participação ampla e solene na Semana Santa na Sé com os responsórios de Martini, de Perosi e de Vitória,  e logo em 57 a Missa de Casciolini, (1) em força, para as exéquias do Bispo D. José e, no ano seguinte, para as de Pio XII.

Numa Liturgia que ainda assentava no latim e no gregoriano, com alguns laivos de polifonia, timidamente iam aparecendo umas composições, mas, com a pressão duma Liturgia em vernáculo, a partir do Concílio Vat II, (1964) outro ritmo se impôs para composições em vernáculo. É ver as antífonas que substituíram os responsórios  para a Semana Santa! (M. Luís). Daí em diante, por necessidade ou por encomenda, foi uma produção infinda até ao fim da vida.

Fátima, desde o Vamos confiantes ao Ave, o Theotokos, foi um ambiente inspirador para tantas belas melodias, que hoje percorrem mundo.

  1. O estilo é inconfundível. A base do gregoriano, embora adaptado à modernidade, passando da música modal para a música tonal, mas influenciando-se mutuamente, proporcionou verdadeiramente melodias de fácil apreensão, de beleza inconfundível, sem grandes fantasias de modernidade. Ainda tentou aqui e além uma incursão muito ligeira em ritmos mais amodernizados: Eu sou o caminho… A dextra do Senhor… mas a veia não se espraiou em modernismos mais acrobáticos. É um estilo adaptado ao que sempre se propôs: “tenho a intenção primordial de fazer rezar quem os cante, procurando valorizar cristãmente os textos, tornando-os mais expressivos e penetrantes, facilitando deste modo a minha oração pessoal e a oração dos outros, mesmo das pessoas mais simples e dos coros e das comunidades menos preparadas musicalmente”. “Faço cânticos sempre na esperança de que o povo cristão, todo o povo cristão, possa rezar com eles, alimentando assim a sua fé, a sua esperança e o amor divino, ajudando-o a entrar em contacto mais íntimo e feliz com Deus. Oxalá consiga o meu intento!”

3) Em diversos 13’s de Verão, (anos 80), depois da procissão do Santíssimo (7 h), um encontro informal, com uns laivos de fumo e amêndoas a adoçar a boca, no quarto do Dr. Gregório, surgia a oportunidade para umas consultas. Vejam aqui se concordam… Da boca das crianças… e outras... Quantas vezes uma ou outra alteração o deixava satisfeito. Até era flexível a opiniões  sobre as suas composições. (Aliviarei… 4 ou 5 sílabas?). E assim era publicado.

Não obstante um temperamento algo alterado, era escravo da perfeição. Ensaios exigentes e pressionados qb, gritados por inadvertências, desinteresse ou alguma dispersão e bastas desafinações; aulas, em voz por vezes tonitruante, em decibéis estridentes,  mas sempre na linha do rigor e da perfeição. Homem sincero, super ativo, aquelas risadas a ecoar ao longe, aqueles jogos de ping-pong, tic…  tac…, mas sempre boa disposição em momentos de mais descontração.

  1. a) Recordo: Cantar com arte e com alma o Mistério de Jesus Cristo – celebração concerto – Leiria 8.12.2001, na Sé de Leiria, nas Bodas da sua Ordenação sacerdotal.
  2. b) 7 de Outubro de 2016 – 65 anos da sua ordenação. Concerto em Minde pelo Cantabo-CS, de Ourém, com a prestimosa colaboração da Banda de Minde.
  3. c) Por que razão se deixou “evaporar” a ideia dum CD-Carlos Silva, que constava do projeto inicial das Comemorações do Centenário da Diocese? Vazio. Pena!

Obrigado, CS, por tudo o que fizeste, no Seminário e no Santuário. Que estejas em Deus, a cantar: Cantarei ao Senhor enquanto viver… Grato Lhe seja o meu canto. Obrigado.

(*) – Este artigo foi solicitado ao Autor para o novo REDE (semanário online da Diocese de Leiria-Fátima)