BAÚ DE MEMÓRIAS
Raridades
Preciosidades
O livrinho (de bolso) publicado em Génova, em 1754,
pela Tipographia Corsanega, “com a autorização dos Superiores”, tem as dimensões mostradas na imagem: 11,8 x 6 cm
De Génova (1754)...
Como na apresentação do «Cantate Domino» (Consolata, 1959-63), seja permitido ao ajudante do Autor deste site na sua construção uma breve-longa descrição e um testemunho pessoal.
O tamanho liliputiano de um dos volumes aqui publicados poderá enganar os incautos: as 452 páginas deste livrinho contêm o conhecido “Manual de Espiritualidade” de Tomás de Kempis, cheio de dicas para uma verdadeira “imitação de Cristo”, alicerce de uma formação não apenas religiosa, mas também humana, pessoal e coletiva, que mantém ainda hoje a sua validade.
Outrora, nos seminários, este “alimento espiritual” era “servido” durante as refeições, que decorriam em silêncio. Mas, com mais de uma centena de “cachopos” (seminaristas) à mesa, era inevitável o ruído produzido no labor de manducar o “alimento material”, destinado a manter a mens sana in corpore sano (a seguir à refeição, havia recreio – e correria atrás de uma bola…). Antes, no refeitório, a voz do leitor (escolhido entre os melhores alunos) assumia o papel de “pregador”, em ambão próprio, sobrepondo-se ao tamborilar dos talheres a percutir nos pratos e permitia aos mais atentos saborear esse alimento espiritual antes de começarem a ingestão e a digestão do alimento material. Acontecia (num dos seminários de Fátima), mas só em dias de festa ou em circunstâncias especiais, dependendo do bom ou mau humor de quem presidia à refeição, que a leitura fosse interrompida pelo toque da campainha: Tu autem, Domine, miserere nobis. Explodia então o “rumor gentium”, liberatório, terceiro momento clássico de um clássico bom banquete (depois de um magnum silentium, aguardando as iguarias, e, as seguir, o stridor dentium).
A “Imitação de Cristo”, lida, escutada e compreendida com mais ou menos atenção, devoção e motivação, foi imprescindível nos seminários, embora tivesse no “púlpito” dos leitores outros bons concorrentes, incluindo obras de sabor mais profano, como os Noivos [I promessi Sposi] ou outros romances clássicos, por exemplo, a Peregrinação).
Passados decénios de adormecimento e repouso em domicílios vários do Autor deste site, aparece(m) mais esta(s) preciosidade(s), que se junta(m) às já publicadas no Baú de Memórias.
O minúsculo tijolo, impresso em Génova, em latim, há mais de dois séculos e meio, fará certamente crescer água na boca (pela sua raridade) e vibrar de saudade o sacrário de recordações dos que tiveram outrora o privilégio de serem introduzidos num tesouro de pensamentos e máximas, de “um dos livros mais admiráveis, se não o mais útil e admirável saído das mãos dos homens”, como escreveu em 1901 um cónego do Porto sobre a versão portuguesa da mesma obra, chegada em 1931 à sua 19ª edição, com mais de 50.000 exemplares publicados.
...ao Porto (1931-36)
Esta outra edição da Imitação de Cristo, que aqui fica também, obteve diversas aprovações episcopais, com afirmações que podem parecer exageradas, mas são unânimes: D. Francisco José, Bispo de Lamego, escreveu em 1906: “Aprovamos e recomendamos a edição da Imitação de Cristo, confrontada com o texto latino e anotada por Mgr. Manuel Marinho, novamente publicada pelo editor católico do Porto, snr. José Frutuoso da Fonseca; e concedemos cinquenta dias de indulgência a quem ler ou ouvir ler com atenção e devoção cada capítulo, ou pelo menos meditar algum tempo sobre a epígrafe e respetiva nota do mesmo capítulo.”
Da piccolissima edição genovesa de 1754 quantos exemplares existirão hoje? Em bibliotecas municipais e/ou diocesanas de Itália (então, ainda longe de existir como país e nação unificada)? E em Portugal? Haverá algum? Não será descabido presumir que o exemplar aqui reproduzido seja senão uma avis rara, até mesmo filho único. Neste caso, qual será o seu valor?
A edição portuguesa de 1936 permite a quantos já esqueceram ou nunca aprenderam latim, não só compreender a edição genovesa, mas enriquecê-la com as anotações que lhe acrescentou Mons. Manuel Marinho.
* * *
Os fios dos alinhavos da encadernação e a consistência do papel resistiram a ventos e tempestades, conservando íntegra a força que mantém solidamente unidas as folhas, mesmo para efeitos da abertura desapiedada necessária para a sua dissecação sobre vidro igualmente impiedoso e frio. A digitalização respeitou a cor prateada ou amarelecida das páginas: a tentação, forte, de a alterar (Photoshop) foi posta de parte, pois o resultado seria uma traição à identidade que ambas estas “relíquias” foram adquirindo e ao uso que dele se fez ao longo do tempo, conferindo-lhes mais maturidade do que velhice…
Da edição em português (1936), por preguiça e com a desculpa de se propor uma “harmoniosa uniformização”, foram recortadas as sombras nas margens (superior e inferior, que remeteriam para o fundo preto da capa). Espera-se que essa homogeneidade do resultado seja assim mais agradável à vista… e, ao ouvido interior, para uma leitura silenciosa.
Dividimos a publicação em cinco partes, relativas aos 4 livros da obra e ao “Apêndice”. Neste, o Leitor encontrará um manancial de informação sobre como sustentar uma vida devota, com orientações práticas, muitas orações dos “bons velhos tempos” em que se rezada de joelhos, ladainhas, cânticos, orações, um modo prático de fazer a Via Sacra, meios práticos para enviar sufrágios ao Purgatório, um Método para assistir à Missa e, em «Índice Especial» como cerejinha no topo do bolo, sugestões das leituras próprias para… os sacerdotes; os seminaristas; os que se dão ao estudo da Filosofia…; os religiosos; as pessoas aflitas e humilhadas; as pessoas demasiado sensíveis; as pessoas tentadas, para as penas interiores; as pessoas que estão com cuidado em seu futuro, em sua saúde, em seus teres, no bom êxito duma pretensão; as que vivem no mundo, as que andam distraídas em suas ocupações; as perseguidas pela calúnia ou maledicência…, ou para as que começam a converter-se. Entre as orações propostas, não faltam uma pelo povo russo e outra “pela conversão dos ingleses”. (Fp)
Índice Geral da edição em português (1936)
LIVRO PRIMEIRO |
||
I | – Do desprezo de todas as vaidades | 1 |
II | – Sentimentos de humildade | 4 |
III | – Doutrina da verdade | 6 |
IV | – Prudência nas acções | 10 |
V | – Leitura da Bíblia | 12 |
VI | – Afectos desordenados | 14 |
VII | – Como se há-de evitar a vaidade e a soberba | 15 |
VIII | – Como se há-de evitar a demasiada familiaridade | 18 |
IX | – Da obediência e sujeição | 19 |
X | – Cautela nas palavras | 21 |
XI | – Da paz e do zelo em aproveitar | 23 |
XII | – Proveito nas adversidades | 26 |
XIII | – Resistência às tentações | 28 |
XIV | – Devem-se evitar os juízos temerários | 32 |
XV | – Obras que procedem da caridade | 35 |
XVI | – Paciência em sofrer os defeitos do próximo | 37 |
XVII | – Da vida religiosa | 39 |
XVIII | – Exemplos dos Santos Padres | 41 |
XIX | – Exercícios dos bons religiosos | 45 |
XX | – Amor da solidão e do silêncio | 49 |
XXI | – Compunção do coração | 53 |
XXII | – Consideração sobre as misérias humanas | 56 |
XXIII | – Meditação sobre a morte | 60 |
XXIV | – Sobre o juizo e penas dos pecados | 65 |
XXV | – Da fervorosa emenda de toda a vida | 69 |
LIVRO SEGUNDO |
||
I | – Da conversão interior | 79 |
II | – Da humilde sujeição ao Prelado ou Superior | 84 |
III | – Do homem bom e pacífico | 86 |
IV | – D o coração puro e intenção recta | 88 |
V | – Do conhecimento próprio | 90 |
VI | – Alegria da boa consciência | 93 |
VII | – Do amor de Jesus sobre todas as coisas | 96 |
VIII | – Da familiar amizade com Jesus | 98 |
IX | – Da privação de toda a consolação | 101 |
X | – Agradecimento pela palavra de Deus | 106 |
XI | – São poucos os que amam a cruz, | 109 |
XII | – Caminho real da santa cruz | 112 |
LIVRO TERCEIRO |
|||
I | – Colóquio de Jesus Cristo com a alma fiel | 123 | |
II | – A verdade fala dentro da alma sem ruído | 115 | |
III | – Como se devem ouvir as palavras de Deus | 128 | |
IV | – Da presença de Deus | 132 | |
V | – Maravilhoso efeito do amor divino | 135 | |
VI | – Prova do verdadeiro amor | 139 | |
VII | – Como se há-de encobrir a graça | 142 | |
VIII | – Da vil estima de si mesmo | 146 | |
IX | – Todas as coisas se devem referir a Deus | 148 | |
X | – Como é suave servir a Deus | 151 | |
XI | – Como examinar e moderar os desejos | 154 | |
XII | – Utilidade da paciência e luta contra os apetites | 157 | |
XIII | – Obediência e exemplo de Jesus Cristo | 160 | |
XIV | – Dos ocultos juízos de Deus | 162 | |
XV | – Como falar das coisas que se desejam | 165 | |
XVI | – A verdadeira consolacão só em Deus se há-de buscar | 169 | |
XVII | – Todo o cuidado se deve pôr em Deus | 171 | |
XVIII | – Como se há-de sofrer a exemplo de Jesus Cristo | 175 | |
XIX | – Sofrimento das injúrias | 176 | |
XX | – reconhecimento e confissão das fraquesas e misérias próprias | 179 | |
XXI | – Descansar em Deus sobre todos os bens e dons | 182 | |
XXII | – Lembrança dos inumeráveis benefícios de Deus | 186 | |
XXIII | – Quatro coisas que trazem consigo grande paz | 189 | |
XXIV | – Como evitar a curiosidade de saber as vidas alheias | 193 | |
XXV | – Paz firme e aproveitamento verdadeiro | 195 | |
XXVI | – Da liberdade da alma | 197 | |
XXVII | – Quanto nos embaraça o amor próprio | 200 | |
XXVIII | – Língua dos murmuradores | 203 | |
XXIX | – Modo de invocar e engrandecer a Deus no tempo da tribulação | 205 | |
XXX | – Modo de pedir o socorro divino | 207 | |
XXXI | – Desapego das criaturas | 211 | |
XXXII | – Abnegação de si mesmo | 214 | |
XXXIII | – Inconstância do coração | 216 | |
XXXIV | – Deus é tudo para quem o ama | 218 | |
XXXV | – Ninguém está livre de tentações | 221 | |
XXXVI | – Vãos juízos dos homens | 224 | |
XXXVII | – Pura e inteira renúncia de si mesmo | 226 | |
XXXVIII | – Bom governo nas coisas exteriores | 229 | |
XXXIX | – Não seja o homem importuno nos negócios | 231 | |
XL | – Não tem o homem de que se gloriar | 233 | |
XLI | – Desprezo das honras temporais | 236 | |
XLII | – Não se deve esperar dos homens a paz | 236 | |
XLIII | – Ciência vã e mundana | 240 | |
XLIV | – Ânsia em buscar as coisas exteriores | 244 | |
XLV | – Não se deve dar crédito a todos | 246 | |
XLVI | – Confiança em Deus | 250 | |
XLVII | – Como se deve sofrer | 254 | |
XLVIII | – Do dia da eternidade e das angústias desta vida | 255 | |
XLIX | – Desejo e hem da vido eterna | 261 | |
L | – Como se deve oferecer nas mãos de Deus o homem desamparado | 265 | |
LI | – Obras humildes e altas | 270 | |
LII | – Não deve o homem ter-se por digno de consolação | 272 | |
LIII | – A graça de Deus é repelida pelos que gostam das coisas terrenas | 276 | |
LIV | – Movimentos da natureza e da graça | 279 | |
LV | – Corrupção da natureza e eficácia da graça | 284 | |
LVI | – Devemos renunciar a nós mesmos e imitar a Cristo | 289 | |
LVII | – Devemos evitar o desânimo | 292 | |
LVIII | – Não se devem especular as coisas sublimes nem os juízos de Deus | 295 | |
LIX | – Esperança e confiança em Deus | 301 |
LIVRO QUARTO |
|||
I | – Reverência em receber Cristo Nosso Senhor | 309 | |
II | – Bondade e amor que Deus mostra ao homem neste sacramento | 315 | |
III | – Quanto é útil a comunhão frequente | 320 | |
IV | – Comungar devotamente | 324 | |
V | – Excelência deste sacramento e do estado sacerdotal | 328 | |
VI | – Que preparação se deve fazer para a comunhão? | 331 | |
VII | – Exame de consciência e propósito | 333 | |
VIII | – Oferecimento de Cristo na Cruz e renúncia de nós mesmos | 337 | |
IX | – Como nos devemos oferecer a Deus | 339 | |
X | – Não se deve deixar a sagrada comunhão por leves motivos | 343 | |
XI | – Necessidade da Comunhão e da sagrada Escritura para a alma fiel | 351 | |
XII | – Diligência com que se deve preparar quem comunga | 356 | |
XIII | – A alma devota deve aspirar à união íntima com Cristo neste sacramento | 359 | |
XIV | – Desejo ardente de comungar | 362 | |
XV | – Modo de alcançar a graça da devoção | 365 | |
XVI | – Devemos descobrir a Cristo as nossas necessidades e pedir-lhe a graça | 368 | |
XVII | – Abrasado e veemente desejo de receber a Cristo | 371 | |
XVIII | – Não devemos especular este sacramento | 375 |