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S. José Operário
Maio 1
«No 1.° de Maio de 1955 — escreve uma testemunha presencial — Roma era um fervedoiro de gente simples e morena, com olhar claro e espontâneo. Aqui e acolá, nos bares e ruas que rodeiam o Vaticano, grupos de homens, mulheres e crianças, misturados em alegre algaraviada, largavam a leve bagagem das suas mochilas e esgotavam xícaras de bom café. À volta deles parecia soprar um ar novo, ainda não estreado. Até ao ponto de o semblante da Cidade Eterna, acostumado a todos os acontecimentos e a todas as extravagâncias de todos os povos da terra, parecer ensombrado diante do alude novo de corpos duros e curtidos, e de almas ingénuas, que ultrapassavam todo o previsto».
[…] Apesar disso, a festa, com toda a sua beleza, poderia ter ficado como uma das muitas que se têm celebrado na magnífica Praça de S. Pedro e o discurso como um de tantos entre os pronunciados pelo papa Pio XII. Não foi assim. Por boca do Sumo Pontífice, a Igreja dispôs-se a fazer, com a festa do 1.° de Maio, o que tantas vezes fizera, nos séculos da sua história, com as festas pagãs ou sensuais: cristianizá-las.
O 1.° de Maio nascera, no calendário das festividades, sob o signo do ódio. Desde meados do século XIX, essa data identificara-se, na memória e imaginação de muitos, com as alamedas e as avenidas das grandes cidades cheias de multidões com os punhos cerrados. Era dia de greve total em que o mundo dos proletários recordava à sociedade burguesa até que ponto tinha descido, à mercê do ódio dos explorados. E essa festa, a festa do ódio, da vingança social e da luta de classes ia transformar-se por completo numa festa litúrgica (atualmente memória)…
[…] Sabemos que foi carpinteiro. Algum dos Padres apostólicos, S. Justino, chegou a ver toscos arados romanos, feitos na oficina nazaretana pelo Patriarca S. José e também por Jesus. Fora disto, tudo o mais são conjeturas. Mas conjeturas constituídas com base de certeza, se é lícito falar paradoxalmente, pois, por muito que desejemos forçar a imaginação, sempre resultará que foi dura a vida dum pobre carpinteiro de aldeia, que a essa condição sua juntou as tristes consequências de ter vivido algum tempo no desterro.
Porque, se algumas economias houve, se alguma coisa chegou a valer a ferramenta, tudo foi preciso quando, em consequência da perseguição de Herodes, a Sagrada Família teve de ir para o Egipto. Dura foi a vida lá. E dura também a vida depois do regresso.
Neste ambiente viveu Jesus Cristo. E este é o modelo que hoje se propõe a todos os cristãos. Para que aprenda cada um a lição que lhe toca.
Quer a Igreja que a memória de S. José Operário sirva para despertar e aumentar nos operários a fé no Evangelho e a admiração e o amor por Jesus Cristo; sirva para despertar nos que governam a atenção pelos que sofrem e o desejo de pôr em prática aquilo que pode levar a uma ordem justa na sociedade humana; e sirva para corrigir.na sociedade os falsos critérios mundanos que em tantas ocasiões chegam a penetrá-la por completo. […]
Estes são alguns breves excertos do capítulo sobre a Festa de S. José Operário, extraídos do II volume da obra «Santos de cada dia – Maio, junho, julho e agosto», que aqui transcrevemos com a devida vénia. Pode lê-lo integralmente na obra publicada pelo Secretariado Nacional do Apostolado da Oração – 4ª edição, revista e atualizada por António José Coelho, S.J., Editorial A.O., Braga 2003 (páginas 11-13).