7. MANGA DI BRANCO! (Ena! tanto branco!)

Arrumadas na prateleira as emoções de Bafatá e arredores (foram 3 batalhões, 13 companhias e alguns pelotões dispersos – todos visitados com alguma assiduidade), registadas num diário, escrito em folhas de bloco, paciente e sucintamente; está amarelecido, tem manchas de água mas o escrito da velha “bic” não borrou… Ainda se lê bem, numa grafia cuidada, na maioria, embora alguns dias, por inércia, enfado ou outra razão qualquer, apresentem hieróglifos apressados, ainda decifráveis com paciência. Pelo menos é um repertório de vivências, umas positivas pela esperança e pela fé, outras de quase desespero pela inutilidade duma vida que se consumia na preguiça, no deixar correr, na desconfiança, na agrura da contrariedade, em ambiente de vício, conversas e discussões porcas e picantes, jogos, bebida e tabaco. Quem não queria deixar-se contaminar… que luta! Que raiva! Que paciência! Abstração e sublimação!

Arrumadas as emoções… encaixotámo-nos o melhor que pudemos para um regresso que, à semelhança da vinda, se imaginava penoso e difícil. Não há história de registo na caminhada, a não ser uns gritos ao motorista: é à esquerda… é à direita. Ei! Pára aí!… Mas porque é que não paraste logo? Alguns procuravam resquícios de paragens conhecidas mas irreconhecíveis, perguntavam por este nome e aquele… mais emoção… mais recordação, mais vivência… até que se deu finalmente com o dístico: AGROMANSOA, cuja paragem estava programada. Atividade dum português de Almeirim, vizinho do Zola, exploração de manga e seus derivados. A paragem foi regeneradora.

Recebe-nos um dos capatazes da exploração, de catana na mão, (instrumento de trabalho, claro) com a expressão que pareceu ecoar ao longe: “Manga di branco”! (Ena tanto branco)! Surpresa, mas não medo. Um telefonema ao dono, algures em Bissau, sossegou e explicou a razão de ser daquela comitiva. Umas sandes e umas bebidas caíram bem, depois de horas de aperto e velocidade nas estradas da selva. Visitámos e louvámos a iniciativa duma exploração cuidada e próspera.

Rumámos a Bissau. Terminámos mais um dia.

Foi um fim de semana cheio de emoções para quem por ali matou algum do seu tempo, à espera duma ordem que tardava na incerteza duma saída. Foi consolador ver locais pisados e vividos, mas a desilusão é grande, dada a decadência das estruturas e o abandono político de tanta gente que vegeta na luta duma sobrevivência ainda possível. Salve-se a visita às organizações que, por todo o lado, na saúde e boa educação, no progresso da mentalidade, do bem estar, fazem esforços titânicos para que a população progrida em humanidade e salubridade. Deus seja louvado!

AO (Alferes capelão)

Uma imagem de Bissau, nos anos 70 do século passado (diapositivo da época).