4. Foi em Buba... Fomos a Buba...

Deixámos as belezas do Saltinho e, entaçados na mesma lata, penetrámos em reino proibido (há 40 anos, claro) para satisfazermos uma das dimensões humanitárias e religiosas da nossa expedição. Só lembro Quebo, que dava pelo nome de “Aldeia Formosa”. Mesmo à beirinha da estrada, ainda se vêem os postes do arame farpado do quartel e as fortes paredes que não permitiam nem sequer perscrutar o que lá dentro se passava. Intacto ainda? Não sei. Mas a aparência não era de derrocada e não sei que instituição, se militar, se política, habita aquele espaço.

Deixem-me recordar: chegou a ser atacada ao arame! Claro, o homem da Breda resolveu o assunto, igual em Bedanda a 9 de Abril…  Ó Delfim Pires, ainda te lembras? Eras um poeta, mas fizeste bom trabalho, agora andas por reinos da Guarda… a evangelizar. Ó Abílio do Júlio, da Rebolaria, eras  um senhor naquele quartel! Ó Manuel Frazão… e a Chamarra? E aquele jogo de futebol ao sol tórrido logo a seguir ao almoço? E o Penim das Farturas! E o cozinheiro?… Obrigado pela vossa hospitalidade tão franca! Naquele buracão terrível!  Era já Junho mas o medo mantinha-se, sobretudo quando chegou a informação da passagem duns “turras”, avistados por perto! Só lá passei dois dias mas foi o suficiente para perceber quão difícil, mas bem orientado, deveria um pelotão para estar ali naquela fronteira capciosa.

Fomos a Buba, aquele porto muito badalado, só ouvir o nome dava dores de barriga, mesmo a quem o não conhecesse. É de recordar o saudoso Américo Henriques. Da Valada, Seiça, nosso colega de Seminário, que ali foi morto numa emboscada em 1967. Quanto te chorámos, amigo! Era sobrinho do D. Américo, de Alburitel, Bispo. Está sepultado em Seiça. Foi em Buba. Junto ao muro do quartel, uns bancos de cimento morrem esquecidos ao lado de  algumas recordações, em cimento, de números de Batalhões que ali sediaram em comissão. O quartel está ocupado por militares guineenses, intacto, ao que parece.

Subimos à Igreja de Santa Cruz de Buba, onde o pároco nos esperava, a nós e ao Bispo da diocese. Uma oração e uma explicação… passámos pela sacristia e fomos dar a uns anexos em construção. Até o Boaventura, serviçal, pegou da colher de pedreiro e demonstrou ao autóctone como se faz um bom reboco numa parede…

Umas cervejitas na tabanca Mendes e Mendes, debaixo dum alpendre primitivo, um recanto indicado por um autóctone, que até dava pelo nome de Manuel Ferreira da Silva, animaram a caravana sequiosa.

Uma visita memorável estava para acontecer: uma visita à Casa das Irmãs, verdadeiro oásis: Jardim de infância: CASA WILMA “No cudi meninos”. Escola, creche e actividades de evangelização, um primor de jardim bem cuidado, a dar o tom ao bem que ali se faz em favor duma evolução tão necessária à população jovem dum país que estagna em litígios políticos, corrupção e favorecimento das classes dominantes, deixando prostrada na miséria uma maioria silenciosa e obediente.

O regresso, duro, de duração, desgaste, cansaço e solavancos, levou-nos pela mesma estrada até Bambadinca. Entrámos na igreja, já noite, (que pena), a mesma que se encontrava em pleno quartel, antigo, totalmente em ruínas. Recordo o quentíssimo dia de Páscoa que aí passei, vindo de Galomaro. Que insolação. Também se pregou ressurreição e Aleluia a uns jovens que andavam em guerra! Santo Deus! Como foi possível?

Aí ouvi  a primeira proclamação da Junta de Salvação Nacional na madrugada já do dia 26 de Abril de 1974.

Fraco interesse pelo abandono e porque era já bem de noite. O Administrador de Bambadinca recebeu-nos em sua casa com uma amabilidade extrema. Conhecido cristão, empenhado na política. A vida não é fácil.

Regressámos, cansados, mas felizes.

AO (Alferes capelão)