25 de Julho: S. Tiago. Ao Evangelho (Mt 20, 22) sai esta frase: “Não sabeis o que estais a pedir”. Ó lucubração de antanho: “Nescitis quid petatis”! Vem logo à memória o sempre considerado P. Craveiro com as suas pregações diárias, matutinas, naquela cátedra do Seminário velho. Frases contundentes e fortes, sempre recortadas por uma frase latina, e, quantas vezes, aquele bater de punho na mesa da conferência, a acordar os mais (quase todos) sonolentos. Não admira! Levantar? 6 da manhã!
E aí ficou a onomatopeia (i.é.á – 3 vogais bem abertas, como mandava a pronúncia latina) a servir de brincadeira entre nós, garotos, quando algum se aventurava nalguma intervenção mais incómoda: “Nescitis quid petátis!”
De vez em quando… talvez “Um naco de Latim” não fique mal a recordar tempos idos. Prometo.
Mt. 20, 22: «Potestis bibere calicein quena ego bibiturús sum?».
Determinar e esclarecer bem os Apóstolos sobre as exigências do Reino foi sempre leal preocupação de Jesus… Haviam-de ter, sem dúvida, horas de verdadeira apoteose em que até os Demónios se lhes haviam de submeter: «Reversi sunt CUM GAUDIO, dicentes: Domine, etiam dæmonia subiiciuntur nobis in nomine tuo» (Mt. 10, 17); mas iriam ter também, como o seu Mestre, horas de Calvário!… Não lhes tinha Ele dito que, para ser Seu discípulo, era preciso negar-se a si mesmo e TOMAR A CRUZ TODOS OS DIAS e segui-Lo? (Mt. 16, 24)… Repetidas vezes lhes fala da Sua própria Paixão e Morte de Cruz (Mt. 16, 21; – 17, 21 – 22, etc.) e, precisamente quando eles discutiam sobre honras e lugares de distinção no Reino, lhes dirige a inesperada pergunta: «Estais dispostos a beber o cálice que Eu hei-de beber? – Quer dizer: quereis acompanhar-Me na via dolorosa da Cruz?!… A sua resposta afirmativa, logo acrescentou: « Calicem quidem meum bibetis» (Mt. 20, 23)… E beberam, de facto, pois, como o Mestre, selaram com o próprio sangue a verdade que ensinavam; compreenderam e quiseram realizar a palavra do Príncipe dos Apóstolos: «Christus passus est… vobis relinquens exemplum ut sequamini vestigia eius» (1 Pet. 2, 21).
Não pode, portanto, o apóstolo (o padre) esquecer que o sofrimento e a cruz hão-de ser os aliados inseparáveis do seu apostolado e a realização contínua do seu «Dominus pars hereditatis mese et calicis mei»! …
E tu, que amor tens já ao sofrimento e à cruz da tua vida?… Tens ou procuras adquirir a consciência do que é esta exigência do Sacerdócio?!…
Breve CV do P. Manuel dos Santos Craveiro
Nasceu na Loureira, Santa Catarina da Serra, a 26.12.1918. Foi batizado a 5.01.1919.
Ingressou no Seminário de Leiria a 16.10.1932, e concluiu os estudos em 1942. Foram seus pais Amadeu dos Santos e Albina da Jesus.
Processo canónico:
Recebeu a prima tonsura a 15.10.1939, ostiariado e leitorado a 21.12.1939, exorcistado e acolitado a 23.12.1939, subdiaconado a 13.07.1941 e diaconado a 20.121.1941. Foi ordenado presbítero em Fátima, por Dom José, a 12.07.1942.
Atividade pastoral:
Em outubro de 1943 foi nomeado professor e prefeito do Seminário de Leiria. No início do ano letivo 1946/47 assumiu o cargo de diretor espiritual do Seminário, sucedendo ao padre António dos Reis que fora nomeado capelão de Santa Eufémia. Por motivos de saúde teve de interromper as atividades que assumira no Seminário e forçado a internamento no Sanatório do Caramulo.
Pouco tempo depois de regressar do Caramulo reassumiu as funções do Seminário.
No Verão de 1965 Dom João Pereira Venâncio nomeou o Padre Manuel dos Santos Craveiro capelão do Santuário de Fátima, onde, além do apoio aos peregrinos que ali acorrem, foi-lhe confiada pelo Bispo Dom João Pereira Venâncio a preparação da “Missão Diocesana” que decorreria ao longo dos anos 1967 e 1968, integrada nas comemorações do cinquentenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima(1917) e cinquentenário da Restauração da Diocese de Leiria (1918).
Em ordem à preparação da Missão, assumiu ainda a orientação dos encontros vicariais do clero diocesano em ordem à renovação espiritual e pastoral do presbitério diocesano.
Direta ou indiretamente esteve presente em todas as paróquias da Diocese.
Após a “Missão”, ficou ligado, em exclusividade, à pastoral do Santuário de Fátima.
A 21 de Fevereiro de 1973 foi nomeado Juiz Pró-Sinodal do Tribunal Eclesiástico. Quando o seu estado de saúde se agravou foi hospitalizado no Centro Hospitalar de São Francisco, em Leiria, onde terminou os seus dias.
Faleceu em Leiria a 8.06.2000.