Correu há dias, nos jornais de Ourém, a evocação do Bispo Rodrigues, dali natural, Bispo de Madarsuma, Bispo das Forças Armadas.
7 de Março de 1974. Eu e o David Lopes (Nogueira do Cravo) fomos à Cova da Moura despedir-nos dele. Último momento da despedida: “Vocês sabem que não vão fazer a comissão por inteiro!?” Boca aberta, paralisados: “Como?” “Vão lá, vão lá! Não posso dizer mais nada!” – retorquiu.
Oito dias depois foi a intentona das Caldas (16 de Março) e mais um mês o 25 de Abril.
Rumámos a Bissau na madrugada seguinte.
Faz 46 anos hoje.
Com cuidado digno de um meticuloso cronista, ficou registada nas 200 páginas do “Diário da Minha Guerra” uma crónica que permite reconstruir cronologicamente o decorrer desse dia de partida, assim como os dias e as semanas seguintes.
Lê-se na primeira página, com a marca do gancho que manteve unidas essa centena de folhas soltas, escritas frente e verso, poupando nas margens (tamanho: 14,8 x 15 cm – A5): só as primeiras estão, em parte, danificadas por inclemências do tempo (água). Transcrevo:
1º Dia – 8 de março – 1
Lisboa – 8,20: partida. Nervosismo. Ambiente de pressão e descontentamento… Primeira facada da guerra: meia dúzia de soldados não têm lugar no avião, mandaram-nos para trás. “E nós, que andámos na cerveja toda a noite, e estávamos preparados, mentalizados para ir para a Guiné, e agora só prevemos ir no dia 16”.
8.35 – subida. Converso com o Rui e um tenente que seguia para o SAL (tenente Nicolau). Durante o voo, confortável, mas demorado, atrasou-se o relógio duas horas.
13, ¼ – chegada ao SAL: deserto, aridez, mas clima bom.
14.00 – partida para Bissau. Mais nervosismo, mais expectativa. Avista-se terra: Guiné. Aumenta a angústia. Apertam-se os colarinhos. Descida no aeroporto de Bissau aí pelas 17 menos qualquer coisa. Uns magotes de militares (dos três ramos) aguardam. Abraço o Zé Carlos Conceição. Amanhã volta. Vai fazer uma patrulha.
Encontram-se colegas capelães que nos esperam. Assina-se a certidão “DE ÓBITO”, como lhe chamam. Malas para trás. Malas para a frente, pretos para aqui e para ali, e eis-nos a caminho do Q.G.
A primeira impressão foi de desolação e miséria. Pretos por essas ruas sem fazer nada. Outros em carros. Casebres miseráveis. Tropa, muita tropa. Controle rigoroso na estrada. Enfim, clima de guerra. Nitidamente de guerra. […]
A pasta que guarda as imagens aqui inseridas e outro material desse “acontecimento” inclui a lista dos padres que participaram no X «Curso de preparação de Capelães», iniciado no dia 7 de janeiro de 1974 (alguns eram diocesanos, outros de diferentes ordens religiosas), e uma “Carta da Guiné Portuguesa”, igualmente preciosíssima, mostrando as áreas de delimitação dos “centros de irradiação de capelães” e a localização das capelanias. … Aqui fica cópia desses dois documentos.