Foi há 60 anos. Talvez 61.

24 de Agosto!

Mais ou menos até essa data (58.59), o formigueiro seminarístico de Alburitel (ia entretanto começar a trilhar vias de extinção), ainda era algo visível no marasmo cultural duma freguesia pequena. O P. João Pereira, da Lagoa, nervos em franja, risada farta, acolhia de bom tom a colaboração dos ditos, aliás sempre à espera das férias grandes para a Comunhão dos adolescentes ser Solene, com um coro a vozes. Lorenzo Perosi emprestava solenidade e brilho com a Missa “Te Deum Laudamus” e o próprio Te Deum.

A par, havia sempre uma récita, bem preparada (Oh! Rapaziadas Teatrais ou Ao Redor da Fogueira e outros textos vindos do Seminário dos Olivais ou de Leiria). Em casa do Ti Zé Dias, que dispunha dum espaço para palco e auditório, no antigo Lagar de Azeite, ou na casa do Ti Armando, na sala de baile, que algumas almas pias apelidavam de “antro de podridão”.

A juventude de então, sem outro incentivo que a entretanto chegada da televisão (57?) à Casa do Povo, ainda se deixava animar por algumas iniciativas, tipo cultural, e mesmo religioso, Parte deles já malhavam ferro no Malheiro (ali mesmo ao lado) e, vai daí, clandestino, bem urdido (e escondido), ferro aqui, vareta ali, solda depois, mais uma coronha áspera e dura, eis um “bacamarte” para ir aos passaritos! “De carregar pla boca”, claro.

24 de Agosto! Por iniciativa do António Ribeiro (nos finais do Curso dos Olivais), um grupo de rapazes foi até à Sabacheira para passar o fim de semana, na Casa Paroquial. Aquele Sábado era dia de S. Bartolomeu. (Tal como hoje). O Zé Cavalita, o Luís da Aida, o Armando Preto (que gosto ele tinha de agarrar os gatos pelo rabo, dar-lhe 3 voltas e atirá-los  como uma funda!) e mais uns tantos.

Na madrugada, foram ao sótão, desembainharam os “bacamartes” e zás! Tiro aqui, tiro ali, planície abaixo… iam coleccionando uns passaritos para aperitivo do almoço.

Pois! Verdade seja dita: a “Venatória” não se fez esperar! Chamado o patrocinador, há que apurar responsabilidades,, que, de batina, seu hábito talar, ainda conseguiu alguma consideração dos “venatórios”. Obrigaram a uma multa de 31 escudos, salvo erro, soma  considerável para quem não tinha nada ou ganhava pouco. O resto do dia e o seguinte, com sobressaltos, ficou conhecido como “O Dia em que o Diabo anda às soltas” (como diz o povo no dia de S. Bartolomeu).

E com esta pequena “preciosidade” (Thesaurus), tirada do Baú das Recordações, talvez se possa dar início a algum repositório de “antiguidades” que, se não aborrecerem muito, algo periodicamente, entrará no(s) Baú(s).

Talvez possa despertar recordações que foram vida e, a serem vida, é penha que não venham ao de cima.

Com amizade

AO