(P. Jorge Alves Barbosa – 22 de Novembro).
O P. Artur Ribeiro de Oliveira, sacerdote da diocese de Leiria-Fátima, ordenado em 1968, desenvolveu a sua actividade musical no ambiente litúrgico do Santuário de Fátima, onde foi director do coro e organista, na linha de figuras como o P. Gregório e o P. Carlos Silva. Membro e colaborador do Secretariado Nacional da Liturgia, marcou aí a sua actividade como copista-editor de muitas das publicações musicais levadas a cabo pelo mesmo Secretariado, ao mesmo tempo que ensaiava as suas experiências na composição musical. Perante o panorama da produção musical litúrgica portuguesa, tomou a iniciativa de escrever e publicar as melodias para os Salmos Responsoriais correspondentes aos dias feriais, ao longo do ano – um trabalho realizado entre 2011 e 2013, após ter sido dispensado condução musical do referido santuário mariano – caracterizadas por linhas simples e facilmente assimiláveis, dentro do estilo da produção congénere já existente para outros momentos litúrgicos. Recentemente, o SNL publicou um colectânea de trabalhos seus, sob o título In aeternum cantabo, expressão do Salmo 88: “Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor”.
Tradicionalmente, as Quintas-feiras são especialmente dedicadas ao sacerdócio – tendo em conta a celebração da Quinta-feira Santa como dia do Sacerdócio – pelo que é natural que este dia encontre uma especial ressonância na vida comunitária das casas de formação dos futuros sacerdotes. Em tempos não muito recuados, nos Seminários, esse dia era feriado, prática que se mantêm ainda em Roma, nomeadamente na Universidade Gregoriana. No Seminário Menor de Viana do Castelo, este dia é designado como Dia da Comunidade, onde a liturgia é alvo de um especial cuidado, facto que sugeriu a oportunidade de se cantar o Salmo Responsorial na missa desse dia. Daí o facto de os alunos do Seminário terem recorrido à publicação do P. Artur Oliveira, logo de início, foi-me solicitada a realização do acompanhamento para um dos salmos dela retirados; para que este não ficasse sozinho na abordagem do repertório do compositor, escrevi, pouco depois, o acompanhamento para os cinco salmos destinados às Quintas-feiras da Quaresma pois se estava a viver esse tempo especial; de seguida, propus-me trabalhar os Salmos para as Quintas-feiras do Tempo Pascal, e posteriormente para as de Advento. Estas, têm liturgia fixa apenas as das três primeiras semanas, pois a quarta semana corresponde já aos dias que seguem o 17 de Dezembro; no Seminário corresponde ao tempo de Férias de Natal pelo que não os abordei. Já mais tarde surgiu o empreendimento de abordar o Tempo Comum, um trabalho mais longo e um pouco assustador ao princípio. Para mais que, temos os anos pares e os anos ímpares… Acabei por abordar apenas aqueles salmos que, em princípio, correspondem ao tempo lectivo, omitindo os que correspondem aos meses de Verão. Assim, temos os Salmos das Semanas 1-XII e depois os das semanas XXIV-XXXIV.
De um modo geral, estes Salmos apresentam melodias particularmente simples, mas bem elaboradas com uma característica especial: os versículos obedecem a uma estrutura rítmica baseada em dois ou três esquemas apenas, o que facilita a sua apreensão imediata, embora dificulte um pouco a abordagem do acompanhamento, a fim de se evitar a monotonia.
Assumimos desde o princípio, como em todos os outros trabalhos destinados aos alunos do Seminário, uma perspectiva didáctica na elaboração destes acompanhamentos; esta não tem apenas em vista a dimensão executiva ou técnica ao teclado manual, mas também a litúrgica; por isso, dotámos cada Refrão da respectiva Introdução, com o que o executante também poderá ir aprendendo as diversas maneiras de abordar uma breve melodia como tema de uma improvisação, também particularmente breve. Isso implicou que, no caso de o mesmo Salmo ser utilizado em várias celebrações, aqui ser abordado com acompanhamento novo; assim se podem ver diferentes maneiras de tratar o mesmo tema. Procurámos variar ainda, quanto possível, o estilo de acompanhamento, tendo presente como referência fundamental também o espírito de cada salmo e respectiva melodia. Trata-se afinal, sem demasiadas pretensões, de uma pequena “Escola de órgão Litúrgico” na esteira de tantos autores clássicos da literatura congénere e mesmo de outros trabalhos meus, como por exemplo os acompanhamentos das respostas aos Cantos do Celebrante, nas Melodias Oficial do Missal. Não tenho a certeza de haver a possibilidade de este trabalho ser executado durante muito tempo, dadas as circunstâncias que envolvem a vida dos Seminários nos dias de hoje, mas competia-me fazer o que estava ao meu alcance para ajudar a uma vivência mais profunda da liturgia no Seminário. Por outro lado, sempre contei como o apreço e apoio dos alunos, pelo que a eles o dedico especialmente. Podendo disponibilizá-lo a outros interessados, aqui encontrarão um repertório que será útil na Liturgia e um auxílio na abordagem específica do Salmo Responsarial por parte do Organista.
Viana do Castelo, 22 de Novembro de 2022
Dia de Santa Cecília
Jorge Alves Barbosa