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42 anos! Foi anteontem!
Na frescura dos 30. José Cid ganhou o festival da Canção. 7 de Março de 1974. Fomos despedir-nos do nosso chefe, o Bispo de Madarsuma, Rodrigues, ali de Ourém. Sabem que não fazem a comissão inteira? Como? … Não posso dizer mais nada!!! Boa viagem… Lembras-te, David?
O aviãozito, a hélice, rumou ao Sal. Na madrugada escura e gélida, as faúlhas do motor em chispas ameaçadoras… ainda assustaram… Escala no Sal. Subimos...
Terra à vista. Abriu-se a porta. Sente-se o bafo dum forno aberto. Bissalanca, na Guiné. Primeiro acto: assinatura num papel, (na gíria, ”certidão de óbito”). QG era o destino. Coração apertado numa farda nova com galões de oficial. Fomos até ao fundo, ao Vaticano, (a tabanca dos capelães). Uma bomba ali rebentada em Fevereiro, deixara marcas mesmo junto à torre…
A Atlantic depositou-nos em Bissalanca, hoje Aeroporto Osvaldo Vieira. Formalidades definidas, carga em pirâmide, entassados como sardinha em lata entrámos no “trilho”, já de alguns conhecido, rumo ao “nosso” QG – a Cúria diocesana de Bissau. Pouca demora, que a picada para Bafatá é brava. Outrora só via aérea! Assim foi: salto aqui, pulo acolá, buracos a exigir destreza, velocidade louca, asfalto irregular e desgastado, pó… tanto pó… joelhos fincados na lata dos bancos da frente, assentos duros, vergões nas coxas, vértebras a ranger, dores nas costas, mais salto, mais lomba… e nomes iam surgindo da boca dos ex-combatentes: Mansoa, Porto-goll, Bissá, Bambadinca, Xime e finalmente Bafatá. Irreconhecível o trilho: porcos, galinhas, vacas, cabras, mau cheiro, abutres, lixo, … eis a Cúria de Bafatá. D. Pedro Zimi, o Bispo, acolhedor, num sorriso muito brasileiro, manifestou o seu reconhecimento pela visita e disponibilizou um acolhimento muito simpático e favorável. Começou a “nossa guerra”. Uma guerra diferente da que há 50, 45 e 40 anos a alguns fez muita “mossa” na vida. Recordar é viver. Cansados mas vivos.
AO – (Alferes capelão)